Há alguns anos o estrategista de Bill Clinton cravou a frase que se tornou célebre “It’s the economy, stupid” como uma recomendação para que o então candidato focasse no tema recessão que Bush estava infligindo aos americanos. Deu certo, Clinton tirou Bush da cadeira de presidente e a frase se tornou famosa.
No universo da transformação digital, não são poucas as pessoas, acadêmicos, pensadores, empresas, consultores, etc, etc, que dizem que as mudanças não estão ligadas a tecnologia em si, mas sim à pessoas.
No sócio, Silvio Meira, lançou recentemente um SUPER PAPER – Gente, Digital – onde discorre detalhadamente por mais de 100 páginas sobre como as pessoas é que podem fazer a mudança e, no final, ter uma transformação digital na sua organização como consequência. Se não leu, leia aqui, vale cada página!
Silvio não foi o primeiro, nem será o último a destacar a importância do olhar nas pessoas, mas fico observando as organizações e vejo que, mesmo concordando com a frase tema desse artigo, as organizações subestimam os desafios e quanto as tais pessoas podem atrapalhar, boicotar e travar os processos.
Pensando assim, resolvi dividir algumas experiências pessoais e observações também pessoais, dos erros mais comuns que as organizações fazem.
Não é sobre falar, é sobre fazer
Transformação digital e a compreensão de que é sobre pessoas viraram tamanhas buzzwords e jargões corporativos que vejo organizações que falam muito no assunto, organizam documentos, discutem em reuniões, etc, etc, mas que, por outro lado, agem muito pouco. Não é sobre um Hackathon. É sobre o que você faz com ele. Não é sobre um workshop, é sobre as consequências que ele traz. Não é sobre uma área de inovação, é sobre o poder real que ela tem de mudar a empresa. Não é sobre inovação radical ou disruptiva, é sobre quanto ela chega a fabrica, aos produtos e aos processos.
Não é sobre algumas pessoas, é sobre o CEO
Vejo muitas corporações criando áreas, segmentos, as vezes até empresas inteiras apartadas da corporação para tentar inovar. Muitas dessas coisas fazem sentido, mas de nada adiantarão se o CEO, o líder da empresa, não estiver drivado pra mudança. Nada! Um legacy CEO não inova. Assim como um disruptor CEO não otimiza processos. O CEO, natural, não será o executor da mudança, mas se ele não for o grande Godfather, pouquíssimo irá mudar!
Não é só transformar as pessoas, muitas vezes é troca-las
Claro que é preciso encarar as pessoas com o cuidado que elas merecem e dar a oportunidade de mudarem. E, note-se, nem todo mundo numa organização deve ser um disruptor. Muito pelo contrário. Mas, acreditar que pessoas que vivem o status quo da organização por anos e anos, que são recompensadas pelo modus operandi atual e que se acostumaram ao baixo risco, de uma hora pra outra, porque uma área de inovação foi criada ou porque o CEO quer mudar, vão mudar e encarar o risco, o desconhecido, o incerto, é cair no conto da carochinha. O problema é que, a maior parte das pessoas, diz que fará. Finge, mente ou se auto-engana como ferramenta de defesa de sem emprego e de seu bônus. E, o tempo passa, e a empresa caminha rapidamente pra irrelevância.
Então, se você é o líder responsável pela tal da transformação digital na sua organização, reflita. Muito.
Se você é o CEO, reflita mais!
Esse job não é pra qualquer um, requer uma capacidade de persistência enorme e a frieza de não cair nos storytellings corporativos (ou enrolations mesmo!) e acabar por se materializar naquela famosa frase sobre a burguesia italiana do escritor Giuseppe di Lampedusa: “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.
Ou, atualizada para os tempos corporativos atuais: “Criamos a área de inovação para que a inovação fique controlada ali”, ou, “fazemos vários hackathons para que os líderes e os liderados achem que a empresa está se mexendo”, ou mesmo mais sofisticadas como “investimos em espaços diferenciados, em gente, em pesquisas externas, em startups, para que, no fundo, o dia a dia na empresa siga o mesmo que sempre foi”.
Se é sobre pessoas, fique atento, é sobre pessoas!
Aquelas capazes de inovar – poucas – e aquelas capazes de matar a inovação em nome de se manterem no status quo – muitas.
It’s about people and people are not stupid, stupid!